quinta-feira, 6 de novembro de 2008

MUSA PORNOGRÁFICA


A propósito de comentários e críticas a obras de Hilda hirst( particularmente "o caderno rosa de lori Lamb”) e de outros poetas que ousam, em seu fazer literário, se utilizar de palavras e expressões ditas “chulas” em seus poemas, resolvi também meter-me( opa!) no tema, expressando alguma opinião, mesmo que superficial, sobre o assunto, que considero por demais relevante, eis que vira-e-mexe o assunto vem à tona em comentários aqui mesmo no overmundo, numa idealizada dicotomia entre o que é erótico e o que é pornográfico,e , por extensão, o que é poético e o que não é poético.
Sobre a poesia e o poema muito já se falou, sendo que para mim, particularmente, Octávio Paz, em seu “ O Arco e a Lira” esgota o assunto, com digressões poéticas sobre a própria poesia e o fazer poético. Seu livro todo é de uma poeticidade, de uma emotividade e de uma entrega à poesia como jamais vi igual.
Com relação, no entanto, à poesia dita fescenina, ou pornografica, não conheço obra específica que a analise, de forma não preconceituosa. Se existirem obras sobre o assunto, gostaria de conhecê-las.
A musa, esta entidade etérea, vaga, e por que não dizer, vagabunda (epa!) também é uma musa pornográfica, além de ser musa lírica, ética, pastoril e outras que tais... A musa não pode e não deve escolher palavras, pois as palavras por si sós são puras e sagradas, sempre
... e portanto, não há que se dizer que um poema é pornográfico ou erótico se usa e se apropria respectivamente de palavras sujas” ou de metáforas, para descrever suas sensações e sentimentos perante o mundo e, principalmente, perante o sexo, o corpo da amada e as volúpias e carícias que levam ao gozo e à fruição dos sentidos.
O amor é sempre puro, é incondicional, e quer sempre cantar e louvar o objeto amado. E a louvação dos prazeres sexuais, das epopéias no leito, dos caminhos e descaminhos que levam ao êxtase, ao gozo pleno dos sentidos, é e deve ser um dos objetos maiores do fazer poético... isto sem peias, sem amarras e sem meias-palavras, se assim o poeta o desejar.... Não há sempre que se falar em metáforas , embora eu, como poeta, exalte as metáforas que embelezam e enriquecem o texto, quando o poeta quer descrever, por exemplo, o corpo da amada.... Porque não falar em bunda ( Drummond, quem diria, nos seus poemas do amor natural, não nos causa espanto?), em peitos, em bucetas, como se fala nos olhos, na boca, nas costas e no ventre? Porque há que sempre querer suavizar o impacto das palavras ao tratar do sexo, desta força explosiva da natureza que move os seres uns rumo aos outros e rumo ao seu crescimento espiritual, se o poeta desejar usar palavras palavrinhas palavrões varas ou varões do dia da dia?... Sim, poetizar toda e qualquer palavra, retirando dela a conotação de suja ou anti poética, é também uma missão do poeta.... Porque poesia é saber utilizar a palavra, o instrumento único e irreversível , contextualizando-a e tornando-a expressão única, naquele instante, naquele poema determinado, que expressa a beleza aos olhos de quem o vê/lê. E finalizando, lembro Manoel de Barros, citado por Sylvio Back, para quem a poesia empurece qualquer palavra... sim, para mim, também, a poesia justifica e purifica toda e qualquer palavra, expressão e instrumento do seu encantamento.